O que foi Herculano?

ASPECTOS HISTÓRICOS E ARQUEOLÓGICOS DA CIDADE ROMANA.

por Matheus Morais Cruz

 

A origem do nome da cidade, Herculano (em latim, Herculaneum), está ligada à figura mítica de Hércules, semideus filho de Zeus (ou Júpiter, na mitologia romana). Além disto, após investigações históricas e arqueológicas mais recentes, pesquisadores passaram a acreditar que, assim como Pompeia, a cidade de Herculano tem sua origem entre os antigos povos etruscos que habitavam a Península Itálica. A conservação de vestígios de natureza defensiva, como muralhas e bastiões posteriormente integrados às edificações cívicas, indica que os romanos, liderados por Sula durante a Guerra Social em sua campanha de expansão sobre a região, enfrentaram grande resistência à ocupação da cidade ocorrida entre 89 e 80 a.C. Com a vitória romana sobre a cidade, Herculano foi convertida, assim como Pompeia, em uma cidade residencial muito popular, principalmente por seu clima agradável e por sua vista para o Golfo de Nápoles.

Herculano e Pompeia tiveram destinos muito parecidos: passaram por uma fase de grande renovação arquitetônica durante o governo de Augusto (27 a.C. – 14 d.C.), foram fortemente atingidas pelo terremoto de 62 d.C., e, por fim, foram devastadas pela erupção do Vesúvio em 24 de agosto de 79 d.C. – que também atingiu a cidade de Estábia. Os danos da erupção, contudo, marcaram de maneira diferente a história das duas cidades. Em Pompeia, apenas uma camada sutil e díspar dos materiais eruptivos (6 metros de cinzas e lapilli) cobriu a cidade, impedindo que novas construções fossem realizadas sobre ela. Em Herculano, por outro lado, a erupção resultou em uma grossa crosta de tufo vulcânico (com espessura variada entre 16 e 25 metros) que permitiu a edificação de um novo centro, a cidade de Resina, que adotou o antigo nome da cidade em 1969.

A posição geográfica dessas três cidades da Campânia é a principal explicação para os diferentes modos de como a erupção agiu sobre elas. Herculano localizava-se na ladeira ocidental do Vesúvio e foi atingida, devido a essa grande proximidade, pela lava do vulcão precedida por uma nuvem ardente de cerca de 400º C de temperatura, o que não possibilitou sequer a tentativa de fuga de seus habitantes. A cidade foi, portanto, a mais fatalmente atingida pela erupção.

Em consequência disso, somente após o século XVIII, por meio de escavações fortuitas, os primeiros vestígios da antiga cidade de Herculano começaram a ser encontrados. Muitos objetos antigos foram descobertos, em 1709, durante as obras de restauração de uma mansão, propriedade de um general do exército do Reino de Nápoles, um príncipe austríaco chamado Elboeuf. Sua paixão por colecionar vestígios arqueológicos levou o general a intensificar as escavações, adquirindo um grande número de obras de valor inestimável, pertencentes todas elas ao teatro da antiga cidade. Escavações regulares começaram somente após 1738, por ordens do rei Carlos III, como parte de sua política de proteção aos tesouros arqueológicos da Campânia. Essa campanha de escavações continuou até 1766, quando seus responsáveis passaram a aplicar o sistema de “escavações por túneis”, similar ao das minas, em virtude da dificuldade de perfurar o espesso banco de material vulcânico. Esse sistema de escavação resultou na descoberta de alguns edifícios que rodeavam o Fórum, as habitações do Cardo III e a Vila dos Papiros.

No entanto, por conta das dificuldades subsequentes em perfurar o material vulcânico, as atividades foram encerradas por um longo período e foram retomadas apenas em 1828, por meio de escavações “a céu aberto”, como já ocorria em Pompeia. Durante todo o século XIX, as atividades sofreram novamente diversas interrupções – e inclusive, correram o risco de serem abandonadas em 1875 pela recusa de proprietários das imediações do sítio arqueológico em autorizar a continuidade dos trabalhos.

Em 1927, lideradas por Amadeo Maiuri e, mais tarde, por Alfonso De Franciscis, as escavações ganharam um novo e definitivo impulso. Também foi nesse momento que pesquisadores passaram a utilizar critérios científicos de escavação mais modernos, o que lhes possibilitou, pela primeira vez, anunciar a verdadeira fisionomia da antiga Herculano. Na última fase do século XX, especialmente durante os anos 80, foi inaugurada uma nova campanha de escavações, com métodos ainda mais meticulosos e inovadores, levando os arqueólogos a novas descobertas, localizadas, sobretudo, na área de frente para o mar.

Da mesma forma, foi nessa campanha que o entendimento sobre a população da cidade foi ampliado. As escavações anteriores haviam descoberto apenas uma dezena de restos humanos, o que levou os estudiosos a acreditarem que a maior parte da população, estimada em cerca de 4500 pessoas, havia conseguido escapar. Contudo, no decurso das escavações de 1982, foram encontrados na área da antiga praia, dentro das chamadas fornices – espaços utilizados para o armazenamento de embarcações –, 270 corpos humanos.

 

Vista geral do sítio arqueológico de Herculano. Foto: Alex Martire, 2014.

 


BONAVENTURA, M. A. L. “Notas Históricas, La erupción del 79 d.C., História de las excavaciones”. In: Herculano Reconstruida. Roma: Archeolibri, 2011, pp. 2-5

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